ANASPS/ON LINE – Ano XV/Edição nº 1.554

Economia

Previdência de 22 Estados e do DF opera no vermelho

Em apenas seis anos – entre 2009 e 2015, último dado disponível -, o rombo passou de R$ 49 bilhões para R$ 77 bilhões

Por Da redação

27 mar 2017, 07h36 – Atualizado em 27 mar 2017, 12h19

Atendimento em uma agência da Previdência Social (Arquivo/Agência Brasil)

Na semana em que o presidente Michel Temer anunciou que os servidores dos Estados e municípios ficariam de fora da reforma da Previdência, um estudo mostra o tamanho do problema deixado para os governadores. Atualmente, as previdências do Distrito Federal e de 22 dos 26 Estados operam no vermelho.

Em apenas seis anos – entre 2009 e 2015, último dado disponível -, o rombo passou de R$ 49 bilhões para R$ 77 bilhões, em valores atualizados pela inflação. Para pagar os aposentados, os Estados usam o dinheiro do seu caixa. A parcela da receita comprometida com a Previdência, na média, subiu de 9,5% para 13,2%. Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul já gastam mais de 20% da receita com Previdência.

Os números que mostram a nova dinâmica de gastos, Estado por Estado, constam de uma nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Três fatores levaram à deterioração acelerada, explica um dos autores do trabalho, Claudio Hamilton Matos dos Santos, técnico de Planejamento e Pesquisa da área macroeconômica do Ipea.

O primeiro deles até contraria outros levantamentos: o número de funcionários na ativa está caindo – o que leva à redução das pessoas que contribuem com a Previdência. Na média, a retração foi de 3,6% em sete anos. Mas, em alguns Estados, foi bem maior porque os governadores tentam cortar despesas reduzindo a máquina pública. No Rio Grande do Sul, houve corte de 18% no pessoal. Em São Paulo, de 12%.

Por outro lado, ocorre uma aceleração nos pedidos de aposentadorias. O número de inativos cresceu 25% entre 2009 e 2015. Há Estados em que o ritmo foi frenético. No Acre e Tocantins, o número de aposentados praticamente dobrou.

O terceiro fator foi pontual, mas nefasto: houve reajustes generalizados nos salários dos servidores, que foram repassados, em sua maioria, integralmente para os aposentados. Não há espaço para mais reajustes, mas o número de aposentados vai continuar a crescer e o de servidores, a cair. “Esse descompasso não vai apenas aumentar o déficit, mas também prejudicar a qualidade dos serviços públicos dos Estados”, diz Claudio Hamilton, do Ipea.

Realidade

“O que o Ipea constatou é a mais pura realidade: sem uma reforma, em cinco ou dez anos todos os Estados estarão como o Rio de Janeiro”, diz o secretário da Fazenda de Alagoas, George Santoro. Sua gestão fez um PDV, plano de demissão voluntária, seguiu o exemplo da União e apertou as regras para concessão de pensões, e agora estuda a criação de um fundo para amparar a Previdência. Mas ele alerta: “Uma hora seremos obrigados a contratar, porque não tem como fazer segurança sem policial na rua ou dar aula sem professor; a qualidade do serviço público está caindo no país todo”, diz.

Na tentativa de aliviar a crescente pressão sobre as contas, nos próximos dias os Estados voltarão a procurar o governo para pedir o compartilhamento das contribuições (tipo de tributo que é de exclusividade da União). “Não vamos conseguir oferecer todos os serviços se a receita não aumentar”, diz André Horta, presidente do Consórcio Nacional de Secretarias da Fazenda (Consefaz).

(Com Estadão Conteúdo

/02/2017 14:00
Alíquota para manter previdência pode chegar a 50,8% em 2040
Nota Técnica aponta que, sem reforma, essa taxa de contribuição de equilíbrio será de 77,5% em 2060

Predomina no sistema previdenciário brasileiro o Regime de Repartição, em que, na prática, os trabalhadores ativos financiam os inativos. Quando se analisa a relação entre valor médio do benefício de aposentadoria/pensão e a renda média do trabalho de ocupados, a estimativa é que o Brasil alcance, em 2040 e 2060, uma alíquota de contribuição de equilíbrio de, respectivamente, 50,8% e 77,5% sobre a massa de renda dos contribuintes para financiar integralmente o pagamento de benefícios dos aposentados e pensionistas. A alíquota de equilíbrio engloba o INSS e os regimes de previdência dos servidores públicos. O alerta está na Nota Técnica Relação entre Valor dos Benefícios Previdenciários e Massa Salarial dos Trabalhadores Ocupados: implicações para a sustentabilidade previdenciária.

Essa alíquota equivale à razão entre quantidade de beneficiários vezes o valor médio do benefício e a quantidade de contribuintes vezes o salário médio de contribuição. A pesquisa prevê um grande aumento da alíquota de contribuição de equilíbrio daqui até 2060.

“Essa simulação, obviamente, é para um cenário sem reforma da previdência”, destaca o coordenador de Previdência do Ipea, Rogério Nagamine Costanzi. No caso específico do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), dados da Guia de Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social (GFIP) de 2013 mostram que a relação de despesa com benefícios para massa salarial era de 35,6%. Naquele ano, enquanto a massa salarial dos ativos vinculados ao RGPS foi de R$ 1 trilhão, a despesa com benefícios previdenciários foi de R$ 357 bilhões.

A análise dos regimes de previdência de servidores públicos, mais especificamente do Governo Federal, inclusive militares, mostra que essa relação cresceu de 66,7%, em 1995, para 68,3%, em 2015: de uma despesa total de R$ 255,4 bilhões, cerca de R$ 151,7 bilhões foram destinados a trabalhadores ativos e R$ 103,6 bilhões para inativos. “Apesar do crescimento relativamente suave no período (+1,66 p.p), os dados reforçam o diagnóstico de uma pressão significativa dos inativos sobre os ativos”, destaca o estudo.

Na pesquisa, a partir da projeção demográfica do IBGE, realizou-se uma projeção da relação entre contribuintes e beneficiários. Atualmente, cerca de dois contribuintes pagam um beneficiário. Em 2040, essa relação seria de 1,3 contribuinte para cada beneficiário e, caso não seja feita uma reforma na previdência, em 2060 um contribuinte não conseguirá pagar nem um beneficiário, chegando a uma relação de 0,9. “Precisamos de uma reforma para garantir a sustentabilidade da previdência, mas também por responsabilidade com as gerações futuras”, defende o coordenador de Previdência do Ipea.

Além de Nagamine, a Nota Técnica foi escrita por Graziela Ansiliero, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental em exercício na coordenação de Previdência do Ipea, e Otávio José Guerci Sidone, auditor federal de Finanças e Controle da Secretaria do Tesouro Nacional/Ministério da Fazenda (MF).

 

 

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