ANASPS/ON LINE – Ano XVI, Edição nº 1.736

Informativo Semanal da Diretoria Executiva da ANASPS

 

Fundos de pensão vão investir R$ 66 bi até 2022

Queda dos juros leva entidades a diversificar para garantir benefícios. Ajuste nas carteiras ocorre no momento em que o país tem a menor taxa de investimento da história.

POR RENNAN SETTI 18/03/2018 4:30 / atualizado 18/03/2018 8:45 O globo 18-03-2018

Com os juros no menor patamar já registrado no país, os fundos de pensão, que representam 12,5% do PIB, terão que buscar investimentos mais rentáveis, e mais arriscados, para garantir os benefícios de seus participantes, como o mercado de ações. O país tem hoje a menor taxa de investimento de sua história. Um grupo de 250 entidades de pequeno e médio porte, que tem cerca de 70% do patrimônio em títulos públicos, deve realocar R$ 66,5 bilhões até 2022. O impacto na economia deve ser ainda maior, já que os grandes fundos de estatais não entraram nessa conta.

 

Com queda de juros, fundos de pensão investirão R$ 66 bi a mais em aplicações de risco
Para especialistas, recursos podem ajudar a impulsionar taxa de investimento do país
POR RENNAN SETTI 18/03/2018 4:30 / atualizado 18/03/2018 8:45 O globo 18-03-2018

 

Opinião da Anasps 

Como acreditar que isto seja possível? É o mercado brigando com o mercado.

Parra impor a reforma da Previdência, comprando deputados e senadores com verbas e cargos, o governo e o mercado venderam as fichas de  que a Previdência social brasileira estava falida 

Tudo mentira.  Como tantas são as mentiras do projeto de reforma, hoje defendida até pelo Planalto…. 

O governo sabia e sabe que a Previdência brasileira não está falida. 

Os fundos de pensão com R$ 750,0 bilhões em ativos (só não são maiores por causa da corrupção prevalente nos principais fundos públicos) e os planos de previdência de bancos e seguradoras tem outros R$ 750,0 bilhões ou mais em ativos.  São R$1,5 trilhão ou (um trilhão e meio de reais) U$ 500 bilhões. 

Qual previdência do mundo que tem ativos deste porte. A da Grécia (falada e que o Governo Temer usou como referencia no seu Projeto) não tem um real. 

Todo economista ainda não vendido ou comprado pelo mercado sabe que os recursos de fundos de pesão se prestam a financiar o desenvolvimento, financiamento de longo prazo. 

No Brasil, o ministro da Fazenda, Ex presidente do Conselho de Administração da JBS, pegou todo o dinheiro da Previdência e obrigou a financiar o déficit público se empanturrando com títulos do Tesouro, que tiveram uma grande desvalorização com a queda da taxa de juros. Administrou mal os fundos e ainda não foi responsabilizado pelas perdas,

Da mesma forma que administrou mal e porcamente a Previdência pública, o INSS, e os Regimes Públicos. 

As aplicações serão de risco, mas será que existe risco maior do que pegar o dinheiro do INSS e deixar na Receita Federal, com os REFIS na porta, junto com renuncias e desonerações, e ou na procuradoria Geral da Fazenda Nacional, (a pior entidade do mundo em recuperação de crédito?)

 

]RIO – A redução dos juros ao menor patamar da história impõe uma mudança bilionária aos investimentos dos fundos de pensão brasileiros. Os títulos públicos, que respondem por mais de 70% das carteiras, já não rendem o suficiente para pagar os benefícios no longo prazo. Com novas reduções à vista na Selic — esta semana, pode cair a 6,5% —, a tarefa ficará ainda mais difícil, obrigando mais investimentos em ativos de maior risco como ações, dívida corporativa e aplicações no exterior. Segundo estimativa da consultoria Aditus com base em 250 planos, o volume investido em segmentos mais arrojados crescerá R$ 66,5 bilhões até 2022. Considerando os maiores fundos estatais, que não entram nessa conta e concentram grande parte dos recursos da indústria, o volume será ainda maior. O ajuste ocorre no momento em que o país precisa erguer a taxa de investimento do menor patamar histórico e em que os fundos tentam resgatar sua credibilidade — prejudicada, justamente, por apostas mais ousadas do passado recente.

 

 

O fim do vício dos fundos de pensão em títulos do Tesouro abre oportunidade para que esses recursos cheguem à economia real, na opinião de Cláudio Frischtak, presidente da Inter B Consultoria. Segundo ele, o investimento em infraestrutura no Brasil precisa subir de 1,37% do PIB, menor proporção em 50 anos, para ao menos 4,15% ao longo de duas décadas. A carência é grande, equivalente a 3% do PIB ao ano, mas possível para os fundos de pensão, que representam 12,5% da economia e têm espaço para crescer: na média dos 22 maiores mercados, as fundações representam, 67% do PIB, segundo levantamento da Willis Tower Watson.

 

— A redução do juros é uma pequena revolução. Mas ela precisa ser sustentável e não resolve tudo sozinha. Precisa-se de bons projetos. O governo tem que melhorar o grau de segurança jurídica, elevando a especialização do Judiciário — disse o especialista, citando ainda a necessidade de maior previsibilidade regulatória — Há um projeto na Câmara de suma importância, que quer aumentar a independência de 11 agências reguladoras. Ele precisa ser aprovado.

 

MUDANÇA NA REGULAMENTAÇÃO DO SETOR

Outro ponto, citou, é acelerar a execução do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Seus 75 projetos previstos para este ano podem atrair R$ 132,7 bilhões. Mas dúvidas pairam sobre muitos deles — há dúvidas, por exemplo, sobre o cronograma de privatização da Eletrobras, que renderia R$ 12,2 bilhões.

Segundo a previsão de Guilherme Benites, da consultoria Aditus, a fatia dos investimentos de maior risco na carteira dos fundos crescerá de 10,5% para 35% em cinco, enquanto a renda fixa encolherá de 90% para 60%. O cálculo levou em conta um universo de 250 planos. A conta prevê que o patrimônio deles somado deve crescer R$ 200 bilhões para R$ 250 bilhões no período. A Aditus não considera os maiores fundos de pensão de estatais, cujo volume de ativos é muito elevado e acaba desequilibrando as comparações. Mas, consultados pelo GLOBO, os principais fundos estão se preparando para mexer em suas carteiras.

Isso deve mudar a cara dos fundos de pensão no Brasil. O estudo da Willis estimou que, em 2016, era de 46% o peso das ações na carteira dos fundos de pensão nos setes maiores mercados do mundo. No Brasil, segundo números da Abrapp, associação do setor, elas representam apenas 18,3% — e isso porque o maior dos fundos, a Previ, tem quase metade da carteira na Bolsa, elevando a média da indústria.

O conservadorismo foi uma reação ao ambiente econômico de menor crescimento. Durante a escalada da taxa Selic entre 2013 e 2015, a soma dos déficits dos fundos de pensão cresceu de R$ 21,4 bilhões para R$ 76,7 bilhões.

O economista Bruno De Conti, porém, está cético com a mudança. O professor da Unicamp estudou o comportamento dos fundos de pensão no último ciclo de queda da Selic, de 2012 a 2013, e constatou que a busca por ativos de mais risco só responde aos juros baixos quando há dinamismo econômico. Naquele momento, as carteiras pouco mudaram, o que deve se repetir agora, previu.

— Esse patamar de juros é fruto da recessão, não houve alterações estruturais. A mera queda da Selic não vai levar a mudanças nas carteiras porque isso dependeria de uma valorização sustentada dos ativos. E isso depende de crescimento — afirmou De Conti.

De qualquer forma, a Previc, que regula o setor, prepara para este semestre um pacote de alterações da instrução 3792, que estipula as regras de aplicação, visando justamente a permitir que os fundos tomem mais risco. A Previc não antecipa quais mudanças serão feitas, mas o mercado especula que pode haver aumento do limite em aplicações em fundos multimercados, que hoje é de 10%. Espera-se ainda adequações para produtos novos, como Certificado de Operações Estruturadas (COEs), que combina elementos de rendas fixa e variável.

— É possível que haja alteração dos limites de investimentos. Isso não seria a parte mais relevante, mas a ideia é flexibilizar, considerando o cenário de redução de juros — afirmou Fábio Coelho, diretor-superintendente da Previc. — A Previc não tutela os investimentos e não sugere aplicação. Mas, é uma tradição que as fundações, identificando maior dificuldade para atingir suas metas, montem seus portfólios de modo a refletir a necessidade de maior rentabilidade fora de investimentos tradicionais.

Em dezembro, a Previc já havia mudado as regras para investimento no exterior, acabando com a restrição de investimento em fundos que detenham 5% de ativos emitidos por um único emissor e flexibilizando a necessidade de “grau de investimento” (selo de bom pagador) para papéis emitidos lá fora. Em contrapartida, passou a exigir que o fundo possua ao menos 12 meses de histórico de performance e diminuiu o limite de aplicação num único fundo de 25% para 15%.

Nos grandes fundos de pensão, porém, o perfil sugere que o movimento será gradual. Criadas há muitos anos, essas fundações têm parte considerável do patrimônio alocado em planos maduros, que já pagam bilhões em benefícios e precisam privilegiar a previsibilidade. Por isso que, na Petros, fundo dos funcionários da Petrobras, a tomada de risco se dará no plano mais novo, o Petros-2, de contribuição variável. Hoje, só 11% de sua carteira de R$ 17,3 bilhões está em ações, contra 81% em renda fixa. Na política de investimento até 2022, a meta é ter 15% na Bolsa, e 74% em títulos de renda fixa. No plano antigo e maior, o PPSP, o objetivo é oposto: elevar a renda fixa de 61% para 70%.

— No plano mais novo, a tendência de juros baixos por um período prolongado de tempo tende a levar a um investimento maior em renda variável — avaliou o diretor de Investimentos da Petros, Daniel Lima. — No caso de investimentos no exterior, não temos nada, mas acho que será importante termos uma posição no futuro.

A Petros foi um dos fundos que mais se machucou com apostas erradas no passado. Os participantes do PPSP estão pagando contribuição extra para cobrir déficit acumulado nos últimos anos, em um equacionamento que soma R$ 27,3 bilhões. Parte da perda se deveu à recessão, mas também pesou alguns deslizes na gestão. A Petros entrou, por exemplo, em aplicações investigadas na Operação Greenfield, como os fundos que injetaram recursos na Sete Brasil e na Gradiente.

— Ficaram um monte de lições do passado. Os processos foram aprimorados, e incorporamos lições dos investimentos malfadados. Por isso, acreditamos que hoje a Petros deve ser uma das fundações melhor posicionadas para avaliar esses investimentos — ponderou Lima.

O maior dos fundos brasileiro é um dos mais arrojados: quase 48% dos seus R$ 180,4 bilhões estão em ações. O plano é diminuir essa parcela a 30,8% em 2024. Mas grande parte da transição é contaminada pelo perfil do plano antigo, que detém cerca de 90% do patrimônio. Mesmo o aumento da participação da renda fixa prevê maior exposição a risco.

— A Previ sempre foi muito tímida no investimento em títulos privados (dívida de empresas, por exemplo). Com a retomada da economia, isso pode ser uma opção dentro da renda fixa — afirmou Marcus Moreira, diretor de Investimento da Previ.

A fundação também se diz aberta a aplicar em dívida relacionada à projetos de infraestrutura:

— Bons ativos de crédito em infraestrutura se alinham ao nosso objetivo, porque são de longo prazo. O BNDES está lançando um fundo com debêntures (títulos de dívida) de infraestrutura para o setor de energia e vamos participar.

 

POUCAS OPÇÕES NA BOLSA

Assim como Cláudio Frischtak, da Inter.B, Moreira acredita que a redução do papel do BNDES no financiamento direto a esses projetos abre o apetite para os fundos de pensão.

A Funcesp, quarto maior fundo do Brasil, já vem ajustando sua carteira de R$ 28,2 bilhões desde meados de 2016, segundo o diretor de Investimentos, Jorge Simino. A alocação em Bolsa cresceu de R$ 1,25 bilhão para R$ 3,7 bilhões desde então, enquanto a posição em fundos multimercados subiu de R$ 200 milhões para R$ 1,26 bilhão.

— No horizonte de cinco anos, é razoável que cheguemos a ter 25% em ações, por exemplo. Há duas décadas, era comum que os fundos tivessem até 30% na Bolsa. Então, há um espaço a ser ocupado. Só que isso depende de algumas premissas para voltar a ocorrer — argumentou Simino.

Um deles, obviamente, é um crescimento sustentado. Mas o diretor da Funcesp levantou também uma dificuldade técnica:

— Temos poucos papéis na Bolsa. Em 1980, havia 150 empresas com liquidez suficiente para montarmos uma posição. Hoje, são 110 e olhe lá. E isso quando a competição aumentou muito, com a entrada de estrangeiros e fundos abertos. Há um desequilíbrio entre oferta e demanda que afeta o potencial de investimento.

Mas a professora Andrea Minardi, do Insper, acredita que a demanda dos próprios fundos acabará induzindo uma maior oferta de empresas na Bolsa. No fim de 2017, por exemplo, a Previ investiu na abertura de capital da BR Distribuidora.

— A transição para a renda variável valoriza os papéis, o que acaba levando mais companhias a abrirem seu capital. Os fundos têm o poder de aquecer o mercado — ponderou.

Na comparação com outros países, os fundos locais têm, de fato, espaço para avançar na Bolsa. Nos EUA, o patrimônio deles representa 85% da capitalização da Bolsa. No Brasil, a proporção é de apenas 30%.

 

Com salto da Bolsa em janeiro, Previ zera déficit que mantinha desde 2015, Fundo de pensão do BB teve ganho de R$ 5,62 bi no mês 

POR RENNAN SETTI atualizado ÁS 22:32 O GLOBO 09-03-2018 

RIO – A Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil e o maior do país, conseguiu acabar em janeiro com o déficit que vinha sofrendo desde 2015 em seu principal plano, informou nesta sexta-feira a fundação. O Plano 1, o mais antigo e de benefício definido, obteve rentabilidade de 4% no primeiro mês de 2018, gerando um ganho de R$ 5,62 bilhões e proporcionando um superávit de R$ 1,33 bilhões. O fundo foi beneficiado pelo bom momento da Bolsa naquele mês, que permitiu ganho de 7,24% na carteira de ações, que respondem por 48% dos R$ 168 bilhões aplicados pelo plano.

O déficit da Previ começou em 2015, de R$ 16,1 bilhões, após superávit de R$ 12,5 bilhões no ano anterior. O déficit atuarial representa o quanto seria necessário para o fundo desembolsar se tivesse que pagar hoje todos os benefícios, atuais e futuros. O fundo de pensão atribuiu o problema à crise econômica, que desvalorizou os papéis da Bolsa (o índice de referência Ibovespa caiu 13,3%) e fez a inflação fechar a 10,67% naquele ano.

Apesar do déficit, os participantes da Previ não precisaram pagar contribuição extra para equacioná-lo. A Previ vinha usando os ganhos gerados pelo Plano 1 para reduzir o buraco. Em 2016, ele diminuíra para R$ 13,9 bilhões; em 2017, com o resultado positivo de R$ 9,6 bilhões e rentabilidade acumulada de 14,85%, reduziu-se a R$ 4,3 bi. O desempenho de janeiro, positivo em R$ 5,6 bilhões, o transformou em superávit.

O objetivo da Previ é usar o superávit para reduzir sua meta atuarial para “tornar o plano mais sustentável no longo prazo”, disse a entidade em resposta ao GLOBO. A meta atuarial é a rentabilidade mínima que o fundo deve atingir para que não falte dinheiro para pagar os benefícios no futuro.

“Com a redução dos juros básicos da economia e consequente menor atratividade dos títulos públicos, restam poucas alternativas com baixo risco que possibilitem rendimento acima da atual meta atuarial”, acrescentou.

Garantiu o bom resultado do plano a disparada das ações de Petrobras e Banco do Brasil, que subiram 26% e 24,7% em janeiro, respectivamente, e permitiram um ganho de R$ 2,75 bilhões para o plano. As duas foram destaques em um mês em que a Bolsa brasileira bateu recordes seguidos, acompanhando o desempenho dos seus pares no mercado internacional. O Ibovespa disparou 11,14% no mês e teve seu melhor janeiro em 12 anos.

7Na ponta contrária, a BRF pesou R$ 106 milhões negativamente ao cair 3,42% na Bolsa em janeiro. Insatisfeita com os resultados da dona das marcas Sadia e Perdigão, a Previ, juntamente com o fundo de pensão da Petrobras (Petros), lidera o movimento de mudança na gestão da empresa. Nos resultados de fevereiro e março, a companhia deve pesar ainda mais, com os impactos negativos gerados pela operação Carne Fraca. Do início de fevereiro até agora, a participação da Previ na BRF desvalorizou-se em R$ 835 milhões. A fundação, porém, descarta se desfazer do papel.

Temos convicção no potencial de recuperação de preço da companhia, que tem uma presença global, marcas sólidas e conhecidas, participação expressiva do mercado em que atua, uma história de sucesso e qualidade de seus ativos. Não há nenhuma perspectiva de desinvestimento de BRF no momento”, explicou a Previ na nota.

Para o futuro, o plano do fundo é reduzir a participação de ações na sua carteira, dos atuais 47,9% para 30,8% em 2024. A Previ afirma já ter vendido R$ 10,4 bilhões em papéis recentemente, incluindo R$ 5,15 bilhões da venda de sua fatia da CPFL Energia em 2017. Enquanto reduz a renda variável, a Previ buscará aumentar o peso da renda fixa (título do governo e debêntures privadas, por exemplo) na sua carteira para quase 60% em 2024. Em janeiro, a renda fixa acumulou ganho de 1,38% para a Previ.

A Previ tem cerca de 200 mil participantes em seus dois planos e uma carteira de R$ 180,41 bilhões em investimentos.

 

PERDAS DOS FUNDOS DE PENSÃO, SÓCIOS DA BRF, CHEGAM A R$ 1,2 BI EM DOIS DIAS
OPERAÇÃO TRAPAÇA ACIRRA GUERRA DENTRO DA MAIOR EXPORTADORA DE FRANGO DO MUNDO 

POR RENNAN SETTI 07/03/2018 4:30 / ATUALIZADO 07/03/2018 9:44 O GLOBO 07-03-2018

 RIO – A nova fase da operação Carne Fraca, deflagrada na segunda-feira pela Polícia Federal, acirrou a guerra entre os sócios da maior exportadora de frango do mundo. Os fundos de pensão, a gestora Tarpon e o empresário Abilio Diniz — que já travavam uma queda de braço após a BRF registrar dois anos seguidos de prejuízo — viram parte considerável de seus investimentos na companhia evaporarem em velocidade recorde.

Com o tombo de 21,7% das ações da dona de Sadia e Perdigão na Bolsa em apenas dois pregões, o valor da fatia de Petros e Previ, que detêm, juntos, 22% da BRF, encolheu R$ 1,2 bilhão. No outro lado da disputa, Tarpon e Abilio viram suas posições diminuírem R$ 680 milhões no período, enquanto são jogados para escanteio pelos fundos e tentam defender suas reputações. Pior: as novas revelações devem continuar fazendo sangrar as ações na Bolsa, segundo especialistas, e levar a complicações na Justiça.

 

Como maiores acionistas da BRF, os fundos de pensão dos funcionários da Petrobras e do Banco do Brasil são os que mais têm a perder com o inferno astral da empresa, iniciado em 2016. Desde aquele ano, a empresa acumula prejuízos de R$ 1,5 bilhão. As perdas são contabilizadas justamente no momento em que passaram a atuar de maneira mais incisiva nos conselhos prometendo melhorias na gestão das empresas nas quais investem. A Petros ainda cobra uma contribuição a mais de seus participantes para equacionar um déficit bilionário.

Nem tudo o que as fundações perderam se deve ao tombo recente da BRF. Uma parcela se deve ao fato de terem vendido parte de suas ações ao longo dos anos. Mesmo assim, como adquiriram os papéis por um valor mais baixo antes da crise, se vendessem as ações hoje, ainda teriam ganho.

“A entidade é investidor de longo prazo e não realizou nenhuma operação de venda de ações da companhia no período recente. Logo, não realizamos nenhuma perda”, ponderou Marcus Moreira, diretor de Investimentos da Previ, em nota. “Acreditamos no potencial de recuperação de preço da companhia, dado sua representatividade no mercado em que atua, seu histórico e a qualidade de seus ativos. ”

De acordo com ele, o investimento da Previ na BRF “supera largamente todas as nossas métricas de referência, ficando acima da nossa taxa atuarial, da taxa básica de juros e da valorização do Ibovespa, considerado todo o histórico do investimento. ”

A fundação já era acionista de Sadia e Perdigão e herdou sua posição na BRF com a fusão entre as duas, em 2009. No fim de janeiro, segundo a Previ, as ações da BRF representavam 3,69% da carteira de renda variável do seu Plano 1 — o mais antigo, de benefício definido — e 1,78% do patrimônio total do plano.

 

CVM ABRE PROCESSO ADMINISTRATIVO

Em nota, a Petros afirmou que “apesar dos recentes resultados insatisfatórios, acredita na qualidade e solidez da BRF e de seus produtos, e espera que esses problemas sejam episódicos e não alterem a história de sucesso da empresa no longo prazo”.

A BRF é a principal produtora e exportadora de frango, com cerca de 28% das vendas ao exterior. A JBS vem em segundo lugar, com cerca de 18% das exportações do animal. Ano passado 55% da produção da BRF foram exportados.

Nesta terça-feira, a Moody’s rebaixou a nota da BRF para “Ba2”. A nota anterior, “Ba1”, já era considerada especulativa. Em relatório, o analista do BTG Thiago Duarte escreveu que “o valor das ações pode ainda sofrer bastante”, uma vez que os novos fatos obrigarão a BRF a adotar controles de qualidade mais rígidos, o que abalará suas margens.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo administrativo sobre a BRF no qual exigiu esclarecimentos da companhia. Nos EUA, mais escritórios de advocacia convocaram acionistas para futura ação coletiva contra a empresa.

A companhia já vivia uma expectativa de mudança no Conselho de Administração. Os fundos de pensão se articulavam para tirar o empresário Abilio Diniz da presidência do colegiado, pois o responsabilizavam pelos resultados negativos nos últimos anos. A operação da PF parece ter agravado o conflito. Para Thiago Duarte, é muito provável que os acionistas da BRF aprovem em abril a proposta de Petros e Previ para afastar Tarpon e Abilio do Conselho de Administração. Mas é pessimista:

“Há muito ainda o que se consertar, e, sem uma estratégia clara e a experiência necessária no setor de alimentos, terão um longo caminho pela frente. ”

Outro sócio da BRF em apuros com a crise da empresa é a gestora Tarpon. Pedro Faria, ex-presidente da BRF preso na segunda-feira pela Polícia Federal, é sócio da gestora e foi indicado para o posto com o apoio de Abilio, que também é um dos principais sócios da BRF. A Tarpon viu suas ações derreterem na Bolsa e deve ver aumentar a desconfiança de seus clientes, iniciada com a crise da BRF. Em 2014, a companhia tinha R$ 10,5 bilhões de investimentos sob gestão. No fim do ano passado, eram R$ 7,2 bilhões. Apenas em 2017, a Tarpon sofreu R$ 1,5 bilhão de saques em seus fundos.

Segundo fonte próxima à Tarpon, desde que a operação da PF estourou, a gestora tem entrado em contato com seus principais cotistas para explicar a situação e demonstrar que está confiante na solidez dos seus negócios. Envolveu-se nessa operação até o sócio Eduardo Mufarrej, que não estava mais no dia a dia da gestão e vinha dedicando mais tempo ao movimento RenovaBR, programa idealizado por ele e que concede bolsas a lideranças políticas em potencial. Ele, porém, continuaria sem papel executivo na Tarpon.

Fundada em 2002, a gestora se firmou com apostas certeiras em poucas empresas. Grande parte do seu patrimônio está concentrado em três empresas: BRF, Somos Educação e Omega Energia. Na Somos (ex-Abril Educação), a companhia detém cerca de 75% das ações em circulação, ou R$ 2,7 bilhões. O negócio vai bem: subiu 37% na Bolsa em 12 meses.

Mas, na BRF, tudo tem dado errado. Sua participação chegou a valer R$ 6,3 bilhões em 2015, mas, depois do tombo dos últimos dias e da venda de papéis nos últimos anos, hoje vale apenas R$ 1,7 bilhão. Segundo a fonte próxima à Tarpon, a BRF ficará como uma lição. Os gestores avaliam hoje que foi um erro aplicar em uma gigante com capital pulverizado. A partir de agora, a ideia será concentrar em companhias onde poderá ter controle.

A maioria dos clientes da Tarpon é formada por investidores institucionais, como fundos de universidades e fundos de pensão, que respondem por 77,2% do patrimônio. Apenas 15% dos investidores são brasileiros. Isso é um problema, segundo fontes que acompanham a gestora, já que esse perfil de investidor preza pela governança corporativa.

— A Tarpon têm lock-up (cláusula que impede resgate imediato dos cotistas), então tem tempo para convencer os cotistas resgatar a confiança — disse um investidor estrangeiro próximo à Tarpon.

 

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