O novo mercado voltado para o idoso

Pessoas que estão na fase da melhor idade procuram gastar seu tempo com novas atividades

Zilá Motta

Uma pesquisa inédita realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pelo portal de educação financeira ‘Meu Bolso Feliz’ com pessoas acima de 60 anos nas 27 capitais brasileiras apontou que o consumidor da terceira idade tem aumentado o seu potencial de compra e a disposição para gastar mais.

Os idosos têm mudado suas prioridades de consumo com o passar do tempo. O levantamento do SPC informa que hoje 41% deles afirmam gastar mais com produtos que desejam do que com itens relacionados às necessidades básicas da casa.

Esses clientes em potencial, além de movimentar a economia, exigem cada vez mais qualidade nos produtos e serviços. Em tempos de crise as empresas estão de olho nesses novos consumidores, e com isto, têm criado novos tipos de serviços voltados para esse público.

O engenheiro elétrico, Edzon Dytz é dono da escola “Dytz Informática” na cidade de Brasília, que conta com vários cursos na área. Entre as modalidades oferecidas pelo lugar existem vários módulos específicos para o público da terceira idade. “O nosso curso ajuda pessoas mais velhas a se reciclarem na área digital porque os filhos e netos já estão em outro estágio de conhecimento nessa área. Então aproveitamos essa oportunidade e criamos o curso”, disse.

Embora representem um nicho propício – já que a população idosa deve ultrapassar a marca de 30 milhões de indivíduos em 2025, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – o mercado brasileiro não está realmente preparado para atender às demandas desses consumidores. Cerca de 45% dos entrevistados relataram ter dificuldades para encontrar produtos voltados as suas demandas. Essa impressão é mais notada, especificamente, pelas mulheres (47%) e pessoas entre 70 e 75 anos (51%).

Entre os produtos que esses consumidores mais sentem falta estão roupas (20%), celulares com letras e tecladas maiores (12%), locais que sejam frequentados por pessoas da mesma idade (9%), turismo exclusivo (7%) e produtos de beleza (3%).

“Quando não encontro o que desejo nas lojas, procuro na internet. As lojas virtuais têm atendido melhor as minhas demandas”, disse Jemima Nogueira, aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Com o tempo livre e dinheiro no bolso, idosos têm incorporado a prática de ir às compras como uma atividade de lazer, é o que disseram quase 40% dos entrevistados durante a pesquisa realizada pelo SPC.

Além disso, muitos idosos estão procurando cursos para se especializar e montar seu próprio negócio. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) sobre o perfil do potencial empreendedor aposentado, 1  a cada 10 aposentados deseja ter seu próprio empreendimento. “Eles desejam empreender, seja para aumentar a renda da família, seja para ocupar o tempo livre que os espera. Para esses pesquisados, aposentadoria significa continuar trabalhando, e muito”, declarou Renata Ziller, especialista em educação empreendedora do Sebrae.

O aumento da expectativa de vida do brasileiro é um dos fatores que tornam promissores os negócios voltados para a terceira ou melhor idade, além de que o mercado consumidor vem passando por grandes mudanças. O poder de compra dos brasileiros aumentou um pouco com a ascensão da nova classe média. Agora existe espaço para vender e oferecer serviços variados, como produtos estéticos, pacotes de viagens e cursos diversos.  

O empresário que focar nisso e conseguir entender o que esse tipo de consumidor deseja tem grandes chances de se dar bem no mercado. O Sebrae analisa cuidadosamente o perfil dos idosos e oferece cursos voltados para empresas que desejam prestar serviços para esse público na área de saúde, turismo e lazer. Entretanto, nos últimos anos a procura pelo curso vem diminuindo bastante e os idosos sentem falta de negócios e produtos voltados para eles.  

“O número dos entrevistados que buscou se capacitar nos últimos dois anos é baixo, só 24% participaram de cursos, palestras ou consultorias. Entre os que querem abrir a própria empresa, o número de interesse em se capacitar é de 64%”, disse Renata Ziller.

 

Compras como atividade de lazer

Os entrevistados não têm vergonha na hora de assumir que chegaram á terceira idade, 83% dos participantes declararam pertencer ao grupo da melhor idade. Além disso, os consumidores consideram 63 anos a idade exata para a entrada na terceira idade.

Desfrutar os prazeres e alegrias da vida é de extrema importância para os entrevistados da pesquisa (66%) e eles levam isso como uma prioridade em suas vidas. Quase a metade dos idosos ouvidos (49%) afirmaram que consumir nessa fase da vida é muito mais interessante do que poupar os gastos.

Os entrevistados da terceira idade estão muito bem decididos e resolvidos com a questão de como desejam gastar o seu tempo livre. Para muitos deles (46%), o lazer se tornou preferencial com a chegada da terceira idade. Quase um quinto (18%) dos idosos afirmam gastar parte da renda com alguma atividade física e gastar mais dinheiro com viagens do que antigamente (20%).

O levantamento concluiu que alguns hábitos se tornaram mais frequentes. Mais de um terço (33%) desse público disse investir mais em roupas atualmente, a fim de ficar bonito e manter uma boa aparência – principalmente os idosos da classe C (37%) – e outros 26% afirmam gastar mais com tratamentos estéticos ou utilizar produtos de beleza para se sentir mais jovens.

Jemima Nogueira, a aposentada que citamos nesta reportagem, está fora do mercado de trabalho há dois anos e procura gastar seu tempo buscando um estilo de vida saudável e benéfico. Além disso, ela não abre mão de gastar seu tempo com atividades de lazer e viagens com a família, mas a aposentada alerta que é importante ter moderação até mesmo na melhor idade. “A resposta para mim é o equilíbrio. Passear, mas sem deixar de poupar. Sem exageros. Dentro de um orçamento”, ponderou.

O levantamento identificou que 41% dos entrevistados ainda preferem ficar no conforto de suas casas e decidem poupar suas economias. E muitos desses idosos acreditam que sua aposentadoria não é suficiente para ser gasta com lazer e compras.

 

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